sábado, maio 13, 2006

Desilusão com o Direito

Eu nunca fui muito fã de direito. Na verdade queria fazer ciências sociais, mas as pressões da família e das possibilidades profissionais me levaram a seguir o rumo das ciências jurídicas.

Desde o início da faculdade, as aulas eram um tormento. Achava tudo uma burocracia sem tamanho. Eram inúmeros os códigos, leis, portarias, decretos, resoluções etc. Sem contar na tão famigerada jurisprudência que a grosso modo é quando os tribunais dizem que tudo o que você estudou nas normas supracitadas estão errados e vale o que eles, os magistrados, dizem.

Porém, o que me fez odiar de vez a nobre, digo pobre, carreira foi uma vez quando na Secretaria do Conselho Recursal de Juizados Especiais do Tribunal de Justiça, onde trabalhava atendi a um senhor bem humilde. Ele estava vestindo uma roupa surrada, não tinha todos os dentes e parecia muito envergonhado de estar ali. Me contava que já tinha ganhado a causa no juizado, mas a empresa de telefonia recorrera da decisão e ele estava sem telefone em casa havia meses. Disse-lhe que não tinha problema, pois o advogado dele podia pedir a execução provisória enquanto o Conselho Recursal, julgava o recurso. Ele me disse que sabia disso, mas o advogado se negara a fazer porque como tinha multa diária para religar o telefone, quanto mais tempo demorasse maior seria sua porcentagem nos honorários. Isso me deu uma tristeza muito grande, pois uma pessoa estava sem telefone há meses e o advogado queria que ela ficasse mais tempo ainda só para ganhar uns trocados a mais. O senhor nem queria dinheiro, só queria seu telefone de volta. O rosto dele de impotência, diante da impossibilidade de seu aparelho ser religado rápido, está marcado na minha mente até hoje.

Nem sei quem é esse advogado, mas com certeza eu quero ser o oposto dessa pessoa, se é que posso chamá-lo de pessoa.

Outros são os defeitos da profissão, como nepotismo, corrupção, vaidade, arrogância e falta de educação de seus membros, mas nenhum desses me atingiu diretamente como o caso narrado acima. Claro que tais defeitos não são exclusivos da classe jurídica, muito menos que todos os operadores do direito sejam assim, mas é muito difícil sobreviver nesse meio sendo honesto e desinteressado. Tenho a certeza de que vou conseguir, mas também tenho a certeza de que fiz a escolha errada. Pena que o tempo não volta.

Juízo, hein!