Desigualdade

Elas chegaram à porta da Faculdade de Direito da Federal, prédio histórico no centro da Cidade, berço de boa parte da elite do país.

Em frente ao edifício, vários estudantes batiam papo animadamente. Alguns eram ricos, outros nem tanto, mas com certeza nenhum deles pertencia a chamada classe desfavorecida.

Eram mãe e filha. Aquela, uma jovem negra e obesa. Esta, uma criança, também com a pele escura, que aparentava uns 9 anos. Traziam um carrinho de bebê e outro de supermercado cheios de roupas, cobertas, comida, brinquedos e alguns utensílios domésticos.

O choque foi inevitável. Eles não conseguiram disfarçar o espanto. Elas o notaram bem. Mesmo assim a mais velha se aproximou e perguntou se ali funcionava um escritório onde havia advogados de graça¹. O grupo respondeu afirmativamente.

Enquanto a genitora entrou no prédio, a menina ficou tomando conta dos seus pertences. Ora observava os jovens tagarelando, ora se distraía com algum brinquedo.

Aos poucos, a situação foi se "normalizando". Os universitários falavam de coisas importantes para eles como trote, festas, chopadas, paqueras, etc. A menina, só, brincava no seu universo particular, parecia não pertencer àquele mundo externo. Talvez não pertencesse mesmo.

Alguns minutos mais tarde os rapazes foram para as suas casas. Aquelas duas? Foram embora levando a sua casa.

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¹ Escritório Modelo que algumas faculdades criam para treinar seus alunos e atender à população carente.